sábado, 17 de outubro de 2009

Cansaço / Cansancio - Oliverio GIRONDO



OLIVERIO GIRONDO

CANSAÇO

Cansado.
Sim!
Cansado
de usar um só baço,
dois lábios,
vinte dedos,
não sei quantas palavras,
não sei quantas lembranças,
grisalhas,
fragmentárias.

Cansado,
muito cansado
deste esqueleto frio,
tão pudico
tão casto,
que quando se desnuda
não saberei se é o mesmo
que usei enquanto vivia.

Cansado.
Sim!
Cansado
por precisar de antenas,
de um olho em cada omoplata
e uma calda autêntica,
alegre
desatada,
e não este rabo hipócrita,
degenerado,
nanico.

Cansado,
sobretudo,
de estar sempre comigo,
de invocar-me a cada dia,
quando termina o sono,
ali, onde me encontre,
com as mesmas narinas
e com as mesmas pernas;
como se não desejasse
esperar a maré-baixa com uma cútis de praia,
Oferecer, ao orvalho, dois seios de magnólia,
acariciar a terra com um ventre de lagarta,
e viver, alguns meses, dentro de uma pedra.


Tradução: Leonardo de Magalhaens
(revisão: Sebastián Moreno)


OLIVERIO GIRONDO

CANSANCIO
Cansado.
¡Sí!
Cansado
de usar un solo bazo,
dos labios,
veinte dedos,
no sé cuántas palabras,
no sé cuantos recuerdos,
grisáceos,
fragmentarios.
Cansado,muy cansado
de este frío esqueleto,
tan púdico,tan casto,
que cuando se desnude
no sabrá si es el mismo
que usé mientras vivía.
Cansado.
¡Sí!
Cansado
por carecer de antenas,
de un ojo en cada omóplato
y de una cola autentica,
alegredesatada,
y no este rabo hipócrita,
degenerado,
enano.

Cansado,
sobre todo,
de estar siempre conmigo,
de hallarme cada día,
cuando termina el sueño,
allí, donde me encuentre,
con las mismas narices
y con las mismas piernas;
como si no deseara
esperar la rompiente con un cutis de playa,
ofrecer, al rocío, dos senos de magnolia,
acariciar la tierra con un vientre de oruga,
y vivir, unos meses, adentro de una piedra.

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